Nos meus primeiros dias de mochilão, resolvi por descer de Madrid em direção ao sul da Espanha, sendo meu primeiro destino Granada e depois Córdoba e Málaga.
Antes de falar de cada uma das cidades, é bom dar um panorama geral da história e falar o porquê da riqueza arquitetônica que essas cidades apresentam. Entre os anos de 711 e 1492, a Península ibérica foi ocupada pelos mouros (árabes), que impuseram suas tradições, idioma e religião à região. Sendo assim, influenciaram de forma muito forte a Espanha, com maior influência no sul do país, em diversos aspectos, incluindo o desenvolvimento de ciências, como medicina e matemática, e na parte arquitetônica, deixando vários legados: mesquitas, alcázares, fortes, entre outros. Outra curiosidade é que o árabe também influenciou os idiomas português e espanhol, sendo que algumas palavras (como açúcar, açafrão, arroz e xarope) tem origem árabe.

Além de rica culturalmente, a região também é a maior produtora de azeite de oliva da Espanha. Na foto, uma das muitas plantações de azeitona que se vê ao viajar por lá
Após essa pequena introdução, vamos à primeira cidade: Granada. Graças à indústria da seda, Granada foi uma das principais cidades do mundo no século XIII, tendo sua economia crescido muito. Para chegar lá de Madrid, o ônibus leva cerca de 6 horas pela ALSA e comprando adiantado custa cerca de 20 euros. A rodoviária está a uns 30 minutos caminhando do centro, assim que pegar um ônibus pode ser a melhor opção, principalmente no quente verão andaluz.
Na cidade, fiquei 2 dias e me pareceu um tempo suficiente para conhecer as principais atrações:
– Alhambra: a atração mais visitada da cidade foi um castelo, construído em 1000 pelo sultão. É um complexo com diversos Palácios e subdivisões. Apresenta vários pátios com diversos detalhes de gesso e madeira. É um lugar muito bonito, que vale muitíssimo a pena. O único problema é para comprar o ingresso, que sempre está esgotado. Devido a isso, deve-se, então, comprar com pelo menos 1 mês de antecedência no site. Ao visitar esse complexo, me pareceu bastante com a arquitetura que encontrei no Marrocos.

Puerta del Vino, que dava acesso à medina.

Área externa do Palácio dos Nazaríes

Patio de los Leones, dentro do Palacio de Nazaries

Detalhes de gesso e madeira: decoração muito rica

Jardim localizado dentro do Palácio dos Nazaríes

Mais detalhes da impressionante fachada em arte mudéjar

Palácio Generalife

Torres da Alcazaba: antiga fortaleza, datada do século IX
– Albaizin: bairro muito simpático, com alguns mirantes que permitem observar a cidade vista de cima. Recomendo sair pra caminhar e se perder em suas vielas.

Albaicin visto de cima

Vielas do simpático bairro, que se localiza na parte de dentro das antigas muralhas da cidade
– Alcaiceria: um mercado bem simpático de produtos típicos árabes. Lembra bastante uma medina marroquina, porém muito mais organizada. De qualquer forma, é interessante de se visitar.

Mercado que lembra um pouco as medinas do norte da África
– Catedral: não cheguei a entrar porque custava cerca de 5 euros. Porém fica a dica para domingo pela tarde em que a entrada é grátis.
Além dos pontos turísticos citados acima, também recomendo a caminhada pelas ruas da cidade, tanto durante o dia, como também à noite, em que a temperatura é mais amena e também permite belas vistas da cidade.

Alhambra iluminada à noite
De Granada, segui para Córdoba, numa viagem de cerca de 2 horinhas, também pela ALSA, que me saiu só 5 euros.
Córdoba também foi uma cidade muito importante, tendo sido uma das cidades mais importantes do Ocidente até o século X, por ter sido a capital do território mouro da Península Ibérica, al-Andalus.
A principal atração turística da cidade é a conhecida e famosa catedral-mesquita, porém a cidade também conta com outros atrativos. Sendo assim, vamos às coisas para se visitar em Córdoba:
– Catedral Mesquita: é a atração mais famosa da cidade e não é a toa. O templo foi inicialmente construído sobre uma igreja católica no século VIII por ordem do emir de Córdoba.. Após a queda do império mouro, o rei da Espanha pediu pra construir uma igreja no local. Felizmente, porém, após se dar conta da riqueza arquitetônica do local, decidiram por não destruir toda a mesquita. Sendo assim, hoje se pode visitar uma catedral dentro de uma Mesquita. É muito interessante. A dica econômica fica por conta do horário de visita. Chegando entre 8h e 8h30, a visita ao local é grátis (economizando 10 importantes euros). É uma visita imperdível se estiver no sul da Espanha.

Os famosos arcos, que pertenciam à mesquita.

Mihrab da antiga mesquita, onde os muçulmanos faziam suas preces.
– Ponte romana: outro ponto turístico, é uma ponte que passa pelo rio Guadalquivir, e que foi construída pelos romanos no início do século I.

Ponte romana à noite
– Alcazar de los Reyes Cristianos: antigo forte militar dos reis, construído no século XIV, atualmente possui jardins bem bonitos. Não é algo imprescindível, mas é legal para visitar.

Detalhe do jardim do Alcazar de los Reyes Cristianos
– Centro Histórico: bem no centro da cidade, esse bairro tem umas vielas muito coloridas e com flores. Vale a pena caminhar e se perder nessas ruazinhas.

Simpático centrinho histórico

Rua da Flores, localizada no centro da cidade
– Sinagoga: localizada no bairro judio, é uma das três sinagogas (as outras duas se localizam na cidade de Toledo) que sobreviveram à época da Inquisição Espanhola, na qual era proibido ser judeu. Data do século XIV e arquitetonicamente é bem bonita.

Detalhe da bem conservada sinagoga, que sobreviveu à Inquisição Espanhola
Após um dia em Córdoba, que imagino que seja um tempo suficiente para visitar a cidade, peguei um ônibus para meu último destino: Málaga.
Fundada por fenícios em 770 a.C., Málaga é considerado um dos mais antigos centros urbanos europeus. Após a época de dominação fenícia, a cidade foi também um importante porto sob domínio dos romanos e dos mouros. Por possuir tamanha influência, de diferentes épocas, a cidade respira história. Além disso, Málaga também é muito conhecida por ser a cidade natal de Pablo Picasso, por isso tem tantos museus dele. Vamos às atrações:
– Alcazaba: antiga fortaleza moura, está localizada próxima ao centro. Foi construída no século XI e conta com alguns pórticos com arquitetura moura, além de diversos pátios e um museu arqueológico.

Exemplo de Pátio localizado dentro da Alcazaba
– Castelo de Gibralfaro: é um castelo mourisco do século X que apresenta uma bela vista do mar e de pontos importantes da cidade, como a Plaza de Toros.

Bela vista do Castelo de Gibralfaro
– Museu de Málaga: para mim, foi um dos museus que mais gostei em toda minha viagem. Muito bem explicado e contando toda a história de Málaga, desde os assentamentos Pré Históricos até atualmente, passando pelo domínio romano, mouro e a Idade Média, me surpreendeu muito. Recomendo fortemente para saber um pouco mais da história dessa parte da Espanha.
– Museus de Picasso: não cheguei a visitar, mas há museus na cidade dedicados a Pablo Picasso, já que o pintor nasceu na cidade. Entre eles, há o Museo Picasso e o Museo Casa Natal de Picasso. Ambos, possuem obras de diferentes fases de sua carreira.
– Praias: sendo uma cidade costeira, Málaga possui algumas praias. Nada comparado a praias brasileiras, porém pode ser uma opção interessante para uma caminhada e banho de mar, principalmente no calor do verão andaluz (que pode chegar a mais de 40 graus).

Uma das praias mais famosas de Málaga: Malagueta
– Catedral: é conhecida pela assimetria que apresenta. Reza a lenda que uma de suas torres não foi terminada por falta de verba. Devido a isso, é conhecida como La Manquita (a maneta).
– Teatro Romano e ruínas: dois pontos que apresentam resquícios da época romana. O teatro está quase que inteiro preservado e próximo a ele há ruínas de um local que produzia garum, um condimento muito valorizado na época romana.

Ruínas do teatro romano, que se encontra bastante preservado

Pirâmide que possibilita visualizar o local onde se produzia garum na época romana (não, não é Paris)
Depois de Málaga, segui para Milão, que será melhor detalhado na parte 2 dessa série. Entretanto, vou falar um pouco mais da Andalucía, já que tive a oportunidade de visitar alguns meses antes a maior cidade da região: Sevilla.
Com 700 mil habitantes, sendo a quarta maior cidade espanhola, Sevilla é uma cidade que encanta todos que a visitam. Também possui muitas influências mouras e é, na minha opinião, uma cidade imperdível da Espanha. É terra do flamenco, de Don Juan, o conquistador e das touradas. Além disso, no século XVI, foi uma cidade importantíssima, já que detinha o monopólio do comércio com a América. Assim, a cidade prosperou e deixou legados arquitetônicos impressionantes. Suas principais atrações são:
– Alcazar: construído pelos árabes a partir da conquista de Sevilla em 713, este palácio foi remodelado pelos reis cristãos. É um belo exemplo da arte mudéjar, com belos edifícios, jardins e salões.

Bela arquitetura no Real Alcazar de Sevilla

Patio dentro de um dos Palácios que compõem o Alcazar

Detalhe da arquitetura mudéjar dentro do Alcazar

Belos jardins dentro do complexo
– Catedral: outrora uma mesquita construída pelos árabes no século XII, a Catedral de Sevilla é algo grandioso, com uma mescla de elementos cristãos e muçulmanos. Entre as coisas imperdíveis para se ver dentro da Catedral, estão a Giralda, torre que já foi a construção mais alta do mundo no século XII, com 97,5 metros de altura, a tumba de Cristóvão Colombo e o Pátio de los Naranjos, que fica na parte externa do edifício.

La Giralda, a torre da Catedral de Sevilla

Catedral vista de dentro

Tumba de Cristóvão Colombo

Inscrições em espanhol e em árabe, que demonstram a mescla das culturas espanholas e mouras na região

Vista no topo dos 97,5 metros da Giralda
– Plaza España: construída em 1929, essa praça é muito impressionante, com detalhes incríveis. Nela, há muitos azulejos e peças que representam as províncias espanholas. Além disso, possui pontes e canais, que deixam o visual ainda mais bonito. Recomendo totalmente, adorei esse lugar.

Canal e pontes da Plaza da España

Detalhes da Plaza da Espãna

Detalhes dos azulejos que homenageiam cada uma das províncias espanholas
– Bairro Triana: localizado do outro lado do rio Guadalquivir, este bairro possui diversas lojinhas que vendem cerâmica. Vale uma visita por suas ruas para conhecer um pouco mais do artesanato local.

Bairro Triana, visto do outro lado do rio
– Las Setas: considerada a maior estrutura de madeira do mundo, este monumento foi projetado pelo arquiteto Jurgen Mayer. Impressiona pelo tamanho (150 metros de comprimento por 70 metros de largura e altura de 26 metros) e pelos painéis utilizados.

Las Setas: tamanho impressiona

Las Setas vista de longe
Visão geral
A Andaluzia é uma região da Espanha muito rica culturalmente, influenciada pela interessante mescla cultural dos mouros com católicos e pela disputa da região. Mesmo com a região já tendo estado sob influência católica há longos 700 anos, as cidades ainda mantêm traços árabes. Outra coisa muito interessante na região é a culinária. Possui pratos bem típicos, como o gazpacho, que é uma sopa fria de tomate. Entre suas especialidades estão também tapas, paella, churros, sangria e muitos outro comes e bebes. Em Granada, provei os famosos caracoles, que não foi a melhor coisa que comi na vida, porém foi uma experiência interessante para se ter.

Caracoles: comida típica da Andalucía
Recomendo fortemente a Andaluzia para se visitar. É uma região muito bonita e que merece a atenção caso visite a Espanha.
Qualquer dúvida ou sugestão, comente abaixo 🙂