Depois de passar por Bulgária, Romênia, Hungria e Eslováquia, meu próximo destino do leste europeu no mochilão seria a República Tcheca, no qual fiquei uma semana.
Para explorar o país, escolhi iniciar pela cidade de Brno, na qual cheguei por ônibus a partir de Bratislava. Além de Brno, também visitei Praga, a capital do país, e também Pilsen e Cesky Krumlov.
No que diz respeito à história do país, a República Tcheca tem suas tradições e raízes bastante similares à vizinha Eslováquia (vale lembrar que até 1993, os 2 países formavam a antiga Checoslováquia).
Com origens nas regiões da Boêmia e Morávia, o território é habitado por povos eslavos desde o século 6. Posteriormente, entre os séculos 9 e 10, fez parte da Grande Morávia, que também incluía a área da Eslováquia e parte da Hungria.
Depois disso, ainda fez parte do Reino da Boêmia, Sacro Império Romano-Germânico, Império Habsburgo e Império Austro-Húngaro. Somente após a Primeira Guerra Mundial, o território, juntamente com a Eslováquia, se tornou independente, formando a Tchecoslováquia.
Durante a Segunda Guerra, sofreu invasões alemãs, tendo sido anexada em 1939. Nessa época, os judeus do país sofreram muito, tendo sido enviados aos campos de concentração ou isolados em guetos. Após o fim da guerra, o Partido Comunista venceu as eleições, o que estreitou a relação com a URSS.
Entretanto, em 1968, o governo tchecoslovaco foi fortemente reprimido pela URSS, quando buscou implementar reformas democráticas. Os soviéticos invadiram o país com tropas e tanques de guerra, entrando em conflitos com a população que apoiava o governo. Este movimento foi conhecido como Primavera de Praga, porém não obteve muito sucesso.
Já em 1989, ocorreu a chamada Revolução de Veludo, que simbolizou a transição do socialismo para o capitalismo no país. Deste processo, também decorreu, em 1993, a separação dos dois países, formando-se assim a República Tcheca e Eslováquia.Após a separação, a República Tcheca foi se abrindo gradualmente, sendo que, atualmente, o país faz parte da OTAN e da União Europeia.
Devido a essa rica história, com influência de diversos povos, a República Tcheca é um país belo e surpreendente. Cada uma de suas cidades tem características únicas, com uma belíssima arquitetura, e muita história. Apesar de Praga ser a cidade mais visitada, sendo quase que invadida por turistas nas épocas de férias, há diversas outras cidades tchecas que merecem uma atenção especial, como Brno, Pilsen e Cesky Krumlov.
Cidades visitadas
Como já comentei, minha primeira parada no país foi a cidade de Brno. Segunda maior cidade do país, com cerca de 380 mil habitantes, Brno (pronuncia-se Bruno) está localizada no sudeste do país. Bastante universitária, contando com cerca de 80 mil estudantes, é uma cidade conhecida por ter aconchegantes cafés e um ótimo transporte público. A cidade também é famosa por ser onde Mendel, o pai da genética (aquele padre das ervilhas) realizou suas experiências. Além disso, Brno é quase que desconhecida por turistas, ou seja, lá é possível conhecer e vivenciar a verdadeira República Tcheca!
Vamos, então, às atrações da cidade:
Bunker: utilizado durante os dois últimos anos da Segunda Guerra contra bombardeios, este local passou a ser usado secretamente como um abrigo nuclear. Atualmente, encontra-se aberto ao público, sendo muito interessante de ser visitado. Recomendo a visita.

Interior do Bunker de Brno
Ossário da Igreja de Santiago: segundo maior ossário da Europa, atrás somente das catacumbas de Paris, este local abriga ossos de mais de 50.000 pessoas. Eles foram ali colocados por falta de espaço no cemitério da cidade. A maioria dos ossos datam do século 17, e são de vítimas da peste negra, cólera e também de invasões suecas.
Catedral de São Pedro e São Paulo: construída entre 1904 e 1905, essa catedral é um dos templos religiosos mais importantes da cidade. Uma curiosidade é que seus sinos soam às 11h00 em vez de meio-dia. Reza a lenda que durante uma guerra contra os suecos, estes teriam dito que abandonariam o cerco à cidade se não tivessem sucesso até às 12h00 daquele dia. Aí, algum cidadão malemolente teve a ideia de tocar o sino uma hora antes, o que acabou espantando os suecos. Não dá para saber se a história é verdade, mas a igreja em si é bem bonita e vale a visita!

Detalhe da Catedral de São Pedro e São Paulo
The Cock Clock: localizado na praça central da cidade, isso teoricamente é um relógio, mas é quase que impossível ler as horas a partir dele. Todos os dias as 11h00, ele emite um sol e expulsa uma bola de vidro com o símbolo da cidade. Por isso, neste horário, ao redor do relógio-falo sempre tem várias pessoas em volta.

Esquisito relógio localizado na Praça Central
Estátua de Jost da Morávia: além do relógio peculiar, Brno também conta com uma estátua bastante diferenciada, de um antigo rei da Morávia montado em seu cavalo. Apesar de parecer normal, dependendo do ângulo observado, ela pode trazer outras interpretações.

Estátua de Jost próxima a Igreja de St. Thomas

Detalhe da estátua, vista por baixo…
Prefeitura Antiga: No prédio que abrigava a prefeitura antigamente, hoje se encontra um centro cultural. Entretanto, o que mais chama a atenção é a Torre do local e o Pórtico, que possui um crocodilo dentro, que antigamente pensavam ser um dragão. Como está localizada no centro, uma visita rápida vale a pena!

Torre da Antiga Prefeitura
Mercado: localizado no centro da cidade, este mercado ocorre desde o século 13 no mesmo lugar todos os dias, com exceção de domingos e inverno. Nele, podem ser compradas frutas frescas deliciosas. O melhor horário para se visitar é na manhã, já que algumas barracas fecham à tarde.

Mercado central e suas flores.
Estátua de Mozart: localizada numa praça no centro da cidade, esta é (mais uma) das estátuas bizarras de Brno. Reza a lenda que Mozart realizou um concerto na cidade quando tinha apenas 7 anos. Como homenagem, fizeram essa estátua. Entretanto, como não sabiam a fisionomia do Mozartinho, colocaram sua cara (de velho) em um corpo de uma criança de 7 anos…

Estátua de Mozart pequeno
Špilas: é um castelo datado do século 13, que abriga um museu e uma ótima vista da cidade, a partir de sua torre. Inicialmente, foi construído para proteção da cidade, mas no século 19 serviu de prisão política para contrários ao Império Austro-Húngaro. Vale a pena visitá-lo.

Vista de Brno a partir do Castelo de Špilas
Museu de Mendel: museu que infelizmente não consegui conhecer, mas que se localiza no mesmo local onde Mendel realizou seus famosos experimentos sobre genética.

Indicação sobre museu de Mendel
Tanque de guerra rosa: bastante peculiar, essa obra foi feita pelo artista David Černý. O tanque esteve por bastante tempo em Praga, tendo sido alocado temporariamente em Brno em 2017. Está localizada em frente à Igreja Vermelha, que também merece uma visita.

Eu (de rosa) e o tanque de guerra, também rosa
Cerveja barata: como toda cidade tcheca, a cerveja é muito (muito mesmo!) barata em Brno. Meio litro de uma boa cerveja custa cerca de 1 euro. Talvez por isso, e por ser uma cidade basicamente universitária, algo que me surpreendeu muito foi a quantidade de gente nas ruas bebendo cerveja em suas canecas de meio litro. Visitei a cidade numa quarta-feira à noite e havia muita gente bebendo. Foi bem legal de ver.

Galera de Brno tomando cerveja na rua em plena quarta-feira de noite.
Após pouco mais de um dia em Brno e com vontade de ficar por mais alguns dias, segui minha viagem com destino à capital tcheca Praga. Para isso, peguei um trem da RegioJet que foi sensacional. Super confortável e até com serviço de “ferromoça”. Foi uma viagem bem rápida, mas que compensou para conhecer mais sobre o trem tcheco.
Bastante diferente de Brno, Praga já é uma cidade maior, muito mais turística, porém também com seus encantos. É cortada pelo rio Moldava, o que gera paisagens e vistas magníficas enquanto se caminho pela cidade. Como é uma cidade maior, acabei optando por ficar 3 dias ali, possibilitando conhecer mais de lá.

Uma das belas paisagens que o Rio Moldava proporciona em Praga.
Vamos então aos pontos mais interessantes de Praga, divididos entre regiões:
Old Town: É o centro antigo da cidade, com diversas atrações.
Old Town Square: é o coração do centro antigo de Praga, cercada por prédios históricos e belas igrejas.
Igreja Tyn: localizada no nordeste da praça, essa igreja tem torres que simbolizam Adão e Eva. Foi erguida entre os séculos 14 e 16 e apresenta uma mescla de estilos arquitetônicos.

Igreja Tyn e suas torres que simbolizam Adão e Eva.
Prédio da prefeitura: localizado bem no centro da praça, este prédio é o mais conhecido de Praga. É famoso por sua torre, que possui um belo relógio astronômico. Instalado em 1410, ele mostra várias coisas, ainda que seja difícil de interpretá-lo. A cada hora, uma multidão se aglomera em frente ao relógio para ver os 12 apóstolos que aparecem como cuco.

Torre da antiga prefeitura, com seu famoso relógio astronômico.
Charles Bridge: construída em 1357, é talvez a maior atração de Praga. Por ela, passam milhares de turistas diariamente, que podem encontrar artistas, músicos e ambulantes. Em suas laterais, há diversas estátuas de santos, sendo que a mais antiga é a de São João (é também a mais tocada pelas pessoas por supostamente trazer sorte).

Charles Bridge e a vista do rio

O local é muito bonito, mas a grande quantidade de turistas acaba com um pouco da graça do lugar…
Castelo de Praga: saindo da cidade antiga e atravessando a Charles Bridge, chega-se ao distrito do Castelo. É um complexo com diversas construções, tendo sido fundado no século 9. Para visitar este complexo, há diversas opções de ingressos, sendo que há descontos para estudantes.

Uma das entradas do complexo do Castelo de Praga
Catedral de São Vito: fundada em 1344, com sua construção finalizada somente em 1929, esta igreja é surpreendente. Tem quase 100 metros de altura e vitrais maravilhosos. Vale a visita.
Antigo Palácio Real: foi a residência de reis boêmios até o século 16. Atualmente, possui dezenas de salas históricas com exposições sobre sua história.

Vista de Praga a partir do Antigo Palácio Real.
Basílica de São Jorge: datada de 920, é uma interessante igreja de arquitetura românica. Nela, há a capela de Santa Ludmila, primeira santa tcheca.

Ossos de Santo Adalberto, localizados na Basílica de S. Jorge
Golden Lane: simpática rua, tem diversas casinhas, onde moravam os trabalhadores do castelo. Atualmente, tem exposições e lojas de souvenir. Destaque para a casa 22, onde viveu e escreveu Franz Kafka.

Golden Lane e suas casinhas simpáticas
Lennon Wall: localizado próximo ao Castelo, esse muro foi o símbolo da resistência dos jovens ao governo ditatorial comunista do século passado. Atualmente, possui diversos grafites interessantes.

Lenon Wall e seus belos grafites
Dancing house: localizada no bairro Cidade Nova, que, apesar do nome, data do século 14, esse edifício é uma obra de 1996. Um deleite para arquitetos, parece que as duas partes do edifício estão em movimento. Interessante de se ver.

Dancing House de Praga. Prédio “dançando” ou caindo?
Bairro Judaico: surgido no século 13, abriga hoje o conjunto de prédios e monumentos judaicos mais bem preservados da Europa. Entre as atrações, há quatro sinagogas, um museu e o antigo cemitério. Apesar da importância histórica, acabei não os visitando, uma vez que todas estas atrações, incluindo as sinagogas, eram pagas (e sou contra pagar para entrar em templos religiosos).

Bairro judaico e a Sinagoga Espanhola, uma das sinagogas de Praga.
Depois de Praga, segui para Pilsen, minha penúltima parada no país. Esta cidade é mundialmente conhecida pela produção de cerveja, mais especificamente por ter inventado a cerveja do tipo pilsen.
Eu fiquei em Pilsen somente por 1 dia, mas acho que foi o suficiente para conhecer os pontos turísticos dessa simpática cidade:
Cervejaria Pilsner Urquell: foi a cervejaria que produziu pela primeira vez a cerveja do tipo pilsen. No tour guiado, é possível ver como a cerveja é fabricada, além de degustá-la. Recomendo fortemente! (Acredito que essa tenha sido a melhor cerveja que tomei na vida)
Catedral de São Bartolomeu: erguida entre os séculos 13 e 16, esta catedral está localizada na praça central da cidade. Possui a torre mais alta do país, com 103 metros, na qual é possível subir e de ter uma linda vista de Pilsen.

Torre da Igreja e a bela vista da cidade de Pilsen
Praça da República: praça central da cidade, é considerada uma das maiores da Europa e possui, além da catedral, uma bela estátua.

Praça da República visto de cima
Grande Sinagoga: uma das 5 maiores sinagogas da Europa, possui belos detalhes arquitetônicos. Apesar de sua importância, não consegui visitá-la por falta de tempo…
Por fim, depois de Pilsen, peguei um trem até a minha última parada na Rep. Tcheca: Cesky Krumlov, a segunda cidade mais visitada do país. Com menos de 15 mil habitantes, a cidadezinha foi fundada no século 13 e parece parada na época medieval. Suas principais atrações são:
Castelo: principal cartão-postal da cidade, forma um grande complexo, com 7 hectares e mais de 40 prédios. Entre os locais mais visitados, estão: sua torre e seus jardins, que foram criados no século 17. Vale a pena entrar para se observar a vista da cidadezinha.

Vista de Cesky Krumlov a partir do Castelo

Castelo e sua iluminação à noite
Centro histórico: além do Castelo, Cesky Krumlov conta com outras construções medievais bastante simpáticas. Para explorar, nada melhor do que caminhar à toa por lá, contornando o rio e caminhando pelas estreitas ruas da cidade.
Visão geral
A República Tcheca foi um país que gostei bastante no geral. Apesar da beleza de Praga, gostei muito das cidades menores que visitei, já que têm menos turistas e apresentam uma experiência tcheca mais autêntica. Uma coisa que me marcou muito foi em relação à cerveja. Na República Tcheca, a cerveja é mais barata que água, custando cerca de 1 euro apenas cada meio litro. Por isso, uma vez que visite o país, prove o máximo que der. É uma experiência que merece um grande destaque. Já em relação às comidas, come-se bem gastando pouco, em relação aos países mais turísticos. O prato típico é formado por carnes, como porco, bife ou salsicha, servido com molhos fortes. Para acompanhar, geralmente comem batata, vegetais ou um pão diferenciado, chamado de knedliky. São pratos sempre muito saborosos!

Detalhe do cardápio. Enquanto 250 mL de água custam 28 coroas, 300 mL de cerveja custam apenas 18 coroas!
Seja por causa da cerveja, seja pela história e arquitetura do país, a República Tcheca é um país que merece uns bons dias para ser explorada. Visite o país que certamente não se arrependerá.
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