3 dias em Malta: Roteiro e dicas

Voltando ao Velho Continente após cerca de um ano e meio no Brasil, a primeira viagem que fiz foi para Malta, um destino que está cada vez mais em (m)alta!

Neste post, vou compartilhar um roteiro, além de algumas dicas para uma viagem econômica ao país.

Para quem não conhece, Malta é um país composto por três ilhas principais (Malta, Gozo e Comino) bastante pequenas. Com área total de 316 km², menor do que o arquipélago de Ilhabela, Malta possui uma população de 460.000, mais ou menos como Piracicaba. Mesmo assim, apenas em 2018, o pequeno país recebeu mais de 2,6 milhões de turistas!

História

Malta possui uma história bastante interessante, devido à sua privilegiada localização, entre a África e a Sicília.

Habitada desde cerca de 5200 a.C., Malta possui uma rica história, marcada por conquistas e invasões de diversas civilizações. Na Antiguidade, foi dominada pelos fenícios e gregos, até ser anexada pelos romanos em 218 a.C.

Após a queda de Roma, ficou sob domínio do Império Bizantino até 870, quando foi conquistada por muçulmanos. Em 1090, foi dominada pelo Reino da Sicília, condição que permaneceu até o século XVI, apesar de diversas reviravoltas e disputas com os muçulmanos.

Depois, passou para as mãos da Espanha, antes de serem cedidas à Ordem de S. João (hoje conhecida como Ordem de Malta), que governou as ilhas até o século XVIII. Em 1798, Malta foi invadida por Napoleão Bonaparte, mas, como parte do Tratado de Paris, se tornou posteriormente parte do Império Britânico, condição que durou até 1947, quando o país finalmente obteve sua tão sonhada independência.

Desde 2004, Malta faz parte da União Europeia, sendo o menor país que faz parte do bloco do euro. Suas língua oficiais são o inglês e o maltês.

Roteiro

Primeiro dia: Valletta, St. Julian e Bugibba

Após chegar no único aeroporto localizado no arquipélago, compramos os bilhetes do ônibus (15 euros por 12 bilhetes), que é a melhor maneira para se deslocar no país. Apesar disso, optamos por cruzar a ilha a pé e ir caminhando até a capital Valletta, uma vez que tínhamos vontade de ter uma primeira impressão do país de maneira menos turística. O caminho não é muito longo (cerca de 6,8 km) e levou cerca de 1 hora e meia. Foi bastante legal para se ter uma ideia de como são as cidades no país – todas elas parecem bairros…

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Luqa, primeira cidade por onde passamos em Malta

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Cemitério turco, com arquitetura bem diferente do restante da ilha, localizado já próximo a Valletta.

 

Chegando em Valletta, logo visitamos os pontos turísticos dessa que é a menor capital que conheci na minha vida até hoje, com pouco mais de 6000 habitantes. É uma cidade bastante turística, porém simpática, que merece uma visita rápida. Os principais pontos de interesse são:

Upper Barrakka Garden: é um parque localizado na parte alta da cidade que oferece uma bela vista da orla. Além disso, lá de cima também é possível observar o Saluting Battery, local com alguns canhões. Lá, todos os dias, são feitas demonstrações de tiros com os canhões, às 12h00 e às 16h00. O recomendável é chegar uns 5 minutinhos antes, já que os turistas se amontoam para assistir isso.

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Saluting battery e os canhões

Orla: como Valletta está localizada à beira-mar, uma caminhada ao longo de sua orla é algo que tem que ser feito. Destaque para o Valletta Waterfront, antiga área de docas reformada, e o Forte S. Elmo, construído em 1552 para proteção da cidade.

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Um dos vários fortes de Valletta.

Centro histórico: além desses pontos, uma caminhada pelo centro histórico também é bastante interessante. É bastante pequeno, podendo ser percorrido tranquilamente em meio dia e possui alguns monumentos relevantes, como igrejas, além de vielas simpáticas.

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Valletta e suas ruas estreitas.

Depois de Valletta, optamos por um ônibus até St. Julian’s, que pode ser considerado a “Ibiza”de Malta. Ali, despedidas de solteiro e baladas é o que não falta… Como só estávamos de passagem, passamos apenas pela praia para dar uma olhada e caminhamos um pouco por ali.

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Orla dos arredores de St. Julian

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Prédio num formato de barco que dá a dimensão da região de St. Julian.

Por fim, pegamos mais um ônibus para chegar ao nosso Airbnb, que se localizava na cidade de Bugibba. Não é uma área muito turística, porém tem suas peculiaridades. Ali, há muitos imigrantes vivendo, o que pode ser facilmente notado por uma caminhada pela cidade: há restaurantes búlgaros, salões de cabelo africanos, bares sérvios, além de clássicos kebabs turcos. O centro em si não tem muita coisa a ser visitada, porém a orla é bastante legal e oferece uma ótima vista do por do sol.

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Por do sol na pouco famosa Bugibba

Segundo dia: Gozo e Comino

Como já dito anteriormente, o país é constituído por 3 ilhas: Malta, a principal, Gozo, ao norte, e Comino, ilhota entre as duas ilhas maiores.

Neste segundo dia, fizemos um bate-volta para conhecer Gozo e depois Comino. Para isso, pegamos um ônibus até o norte da ilha de Malta, na cidade de Cirkewwa. Um fato curioso é de que era sábado e havia menos oferta de ônibus. Por isso, a maioria dos busões estavam lotados, o que fazia com que os motoristas não parassem nos pontos. Demoramos mais de uma hora para conseguir pegar o busão, mas no final acabou dando certo.

Em Cirkewwa, há um barco que vai até Mgarr, já na ilha de Gozo. A travessia é bem rápida e dura menos de meia hora.

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Placa gozada de boas-vindas

Gozo é bastante pequena para os padrões brasileiros. Possui apenas 30 mil habitantes, distribuídos numa ilha de 14 km x 7 km. A sua principal cidade e capital é Victoria, acessada facilmente desde Mgarr por um ônibus, que leva uns 20 minutos.

Victoria é uma cidade bastante simpática, com um centrinho que possui atrações a serem visitadas:

Il Kastell: é uma citadela murada construída entre 1697 e 1711 que se localiza no alto da ilha. De lá, é possível se ter uma vista completa de Gozo. É imperdível. Além disso, também há no local a Catedral de Assunção e um refúgio utilizado como bunker durante a Segunda Guerra. Vale a pena!

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Centro: além do castelo, um passeio imperdível em Victoria é caminhar por seu centro, se perdendo em suas ruas e vielas. São bastante charmosas, com uma coloração bastante típica.

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Victoria e seu simpático centro

Além de Victoria, outro ponto turístico gozitano bastante famoso são os templos megalíticos de Ggantija, ao sul de Xaghra, que são ruínas dar o local, uma vez que ainda visitaríamos Comino, antes de voltar para a ilha de Malta. Vai ficar para a próxima…

Depois de Victoria, seguimos novamente para Mgarr, de onde sairia um barco para Comino. Para esse trajeto, deixo uma dica para quem quiser economizar, que é a empresa Ebson Ferries. Comprando online, o percurso Gozo-Comino-Malta custa 9 euros. Como a passagem de Malta para Gozo só é paga no trajeto de Gozo para Malta (4,65 euros por ida e volta), é possível economizar aí uma graninha para uma refeição!

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Barco para Comino

Em Comino, ficamos por aproximadamente uma hora, mas sinceramente não gostei muito. A água possui uma cor incrível e é a ilha é muito bonita. Porém, é possível ver como o turismo massivo está destruindo o local. É possível observar indícios de erosão devido ao fluxo de turistas na ilha, além de muitos barcos atracados por lá. Nós fomos perto das 16h00, longe do horário de pico e já me pareceu bastante cheio. Fico imaginando como deve ser visitar a ilha com excursões que chegam todas juntas pela manhã…

De qualquer jeito, valeu a pena a visita para um mergulho nas águas transparentes da praia mais famosa do país, conhecida como Blue Lagoon.

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Famosas águas de Comino

Terceiro dia: Mdina, Rabat, Mosta e Qawra

De longe, para mim, foi o dia com os passeios mais interessantes. Pudemos visitar cidades algumas cidades bem menos turísticas e muito mais autênticas, que nos mostraram como Malta realmente é.

A primeira parada do dia foi o combo Mdina + Rabat. Para chegar lá, é possível pegar ônibus, porém optamos por fazer uma bela de uma caminhada, de cerca de 8 km, para visitar o local.

As cidades são muito interessantes. Mdina é localizada no alto de uma colina, é toda murada e tem ares bem medievais. Reza a lenda que a cidadela remonta aos tempos dos fenícios que ergueram muros de proteção em 1000 a.C. Depois, foi a vez dos romanos expandirem a cidade e, finalmente, os árabes, que deram o nome atual (medina em árabe significa “cidade murada”). Estes últimos construíram paredes mais fortes, além de um fosso, que atualmente abriga um belo jardim.

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Muralha de Medina e seus jardins

Já Rabat, que em árabe significa “subúrbio”, é a cidade localizada na parte exterior da citadela, e também possui locais bastante interessantes.

Entre os principais pontos turísticos das cidades, estão:

Catedral de S. Paulo: datada do século XVII, essa é a principal igreja da região. Sua fachada é bastante impressionante, porém a entrada é paga. Por esse motivo, não visitamos por dentro, mas deu para se ter uma ideia pelo exterior.

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Catedral de S. Paulo, em Mdina

Caminhada pelas cidades: muito charmosas, tanto a cidadela como o entorno possuem alguns edifícios bastante interessantes, geralmente adornados com flores e imagens religiosas. Além disso, a cidadela também propicia uma bela vista do entorno, uma vez que está localizada no topo de uma colina. 

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Detalhes das casas em Rabat.

Catacumbas de S. Paulo: localizadas em Rabat, este complexo de catacumbas é da época romana e impressiona pelo tamanho. Datam de cerca de 300 d.C., tendo sido utilizadas por mais de 500 anos. O local teve diversos usos ao longo da história e, mais recentemente, foi utilizado para estoque de alimentos. Vale a visita.

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Detalhe de uma das mais de vinte catacumbas existentes no complexo.

Outras catacumbas: em Rabat, também há outras catacumbas que podem ser interessantes de serem visitadas. Destaque para as Catacumbas de Santa Agatha, com afrescos dos séculos XII ao XV, no local onde a santa teria se escondido quando fugiu da Sicília e para a Igreja de St Catald, que possui pequenas catacumbas em sua parte subterrânea.

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Catacumbas, bem pequenas, localizadas abaixo da Igreja de St Catald, um santo irlandês.

Após visitar estes belos locais, resolvemos novamente voltar caminhando (mais 9 km), dessa vez parando na cidade de Mosta para visitá-la.

Cidade bastante pequena, Mosta possui como única atração sua catedral, dedicada à Assunção de Maria. Foi construída no século XIX e inspirada no Pantheon romano. Não é nada imperdível, mas se destaca na paisagem maltesa.

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Catedral de Mosta, conhecida popularmente na região como Rotunda de Mosta.

Por fim, de Mosta, caminhamos até Qawra, praia localizada perto de Bugibba para dar uma olhada. O mar não parecia muito convidativo para um mergulho, porém foi um bom lugar para se descansar após mais de 20 km caminhados durante o dia.

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Levemente cansados após mais de 20 km caminhados…

Para finalizar a viagem, ainda passamos no famoso bar Naša Priča, o melhor bar sérvio de Bugibba. Música sérvia de alta qualidade, detectores de fumaça envoltos em plástico e pessoas fumando dentro do bar são as principais qualidades desse bar RAIZ.

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Latão de MERTENS no Bar mais sérvio possível.

Visão geral

No que se refere à gastronomia, Malta deixa bastante a desejar. Não possui comidas muito típicas, sendo basicamente uma mescla de cozinhas de diversos locais, que são bastante caras no geral. Por isso, durante a viagem nos alimentamos basicamente de qasatat e pastizzi, clássicos salgados malteses que podem ter recheio de ricota, ervilha ou anchovas. Enquanto o pastizzi é feito com massa folhada, o qasatat já é mais pesado, lembrando uma massa de salgado assado. São bastante saborosos na primeira mordida, porém podem se tornar um pouco enjoativos se comidos em todas as refeições de todos seus dias de viagem (fica a dica…), provavelmente devido à pouca variedade de recheios. Porém, de qualquer forma, cada pastizzi custa em média 60 centavos, o que é ótimo para mochileiros.

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Típica pastizzeria maltesa, com várias opções (incluindo muitos pastizzis e qasatats)

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O famoso pastizzi com recheio de ricota

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O famoso qasatat recheado com ervilhas

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Janta num pub: misto quente com aquele latão de SKOL

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Culinária peculiar maltesa: torta de macarrão. Não sei de onde tiveram a brilhante ideia de botar massa numa massa, porém até que estava bom…

Além disso, algo que me surpreendeu bastante foi o legado da colonização inglesa na questão dos bares. Há pubs tipicamente britânicos em toda e qualquer esquina de Malta, é bastante interessante.

De maneira geral, Malta é um país bastante único, que, por sofrer influências e conquistas de vários países, acabou virando uma mistura de tudo. No meu modo de ver, o país parece como uma mistura de Marrocos com sul da Europa. As ruazinhas dos centros históricos são bastante similares às das medinas marroquinas, porém são mais organizadas. Sua língua oficial, o maltês, também reflete essa mescla cultural, sendo bastante diferentona. Parece um árabe escrito com o alfabeto romano, bem interessante.

Além disso, algo que me surpreendeu muito foi a expansão do país. Em qualquer lugar onde se olha é possível observar gruas construindo novos edifícios, principalmente para o turismo. Eu fiquei com a impressão que o turismo está impulsionando de forma bastante forme a economia maltesa – porém não sei até que ponto isso está sendo feito de uma forma sustentável, como mencionei no caso de Comino.

De qualquer forma, é um país com diversas peculiaridades e que, sim, merece ser visitado. Sugeriria ir em épocas de baixa temporada, uma vez que, no verão, lá parece ser muito caótico. Três dias são suficientes, mas acredito que ficar mais um pouquinho seria bom para poder aproveitar Malta com mais calma.

No caso de dúvidas, sugestões ou críticas, é só comentar abaixo! 🙂

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