No ano passado, já que estava morando em Roma, tive a possibilidade de explorar a cidade de Napoli e atrações nos seus arredores, incluindo a simpática cidade de Sorrento, além das bastante turísticas ruínas de Pompeia e o vulcão Vesúvio.
Essa viagem me foi muito surpreendente, uma vez que a região é totalmente diferente de tudo que eu havia visto na Itália até então. Trânsito caótico, desorganização, belas paisagens e comida maravilhosa compõem essa região tão característica.
Só para se ter uma ideia da localização, deixo aqui um mapa com as cidades visitadas nesses 3 dias:
Napoli
Capital da região de Campania, no sul da Itália, Napoli é a terceira maior cidade italiana, com cerca de 1 milhão de habitantes. Mundialmente famosa por ser a terra da natal da pizza, Napoli também conta com uma rica cultura. Além disso, também é conhecida como a região da máfia na Itália – apesar de me parecer bem mais segura que cidades como São Paulo, por exemplo.
A história de Napoli, assim como de várias outras cidades italianas, é bem antiga. No ano 327 a.C. foi conquistada pelos romanos. Passou por um período de domínio bizantino a partir do séc 4 d.C. e depois tornou-se um ducado independente no séc VIII. Ainda foi incorporado ao Reino da Sicília e depois passou a ser governado pela coroa de Aragão (espanhola). Por fim, no século XIX, passou a ser independente, sendo anexada ao território italiano em 1861.
Por conta dessa complexa história, Napoli é hoje uma cidade única. À primeira vista, parece muito caótica. Olhando mais de perto, você percebe que sua primeira impressão estava correta. Na rua, não há um único momento em que há silêncio: sempre há alguém buzinando. Poucos respeitam o farol vermelho e ninguém usa capacete. É possível encontrar, inclusive, famílias inteiras (pai, mãe e 2 filhos) numa única lambreta. Também vi crianças de no máximo 10 anos dirigindo pela cidade – obviamente sem capacete.

Casas mal conservadas e trânsito caótico: são essas as primeiras impressões quando se chega a Napoli, no sul da Itália.
Apesar desse aparente caos, a cidade tem seus encantos. É surpreendente ver o modo em que vivem os napolitanos em plena Itália do século XXI; realmente parecem viver como viviam no século passado. Suas vielas, bastante estreitas, são muito encantadoras. Nelas, é muito comum encontrar varais cheios de roupas, que os moradores deixam para fora de suas casas. A comida, então, é espetacular: além da pizza, há alguns docinhos típicos, como o babà, a sfogliatella e a pastiera. Impossível não ter vontade de provar de tudo quando se visita a cidade.

Típico edifício napolitano: meio sujo, um pouco caótico e com varais do lado de fora.
Como uma autêntica cidade italiana, Napoli conta com diversas atrações. Além da atmosfera única, a cidade possui centena de igrejas por todos os cantos, além de outros pontos de interesse. Vamos aos principais:
- Spaccanapoli: parte velha da cidade, aqui estão as tradicionais vielas napolitanas. A Via dei Tribunali corta essa região de ponta a ponta e nela podem ser encontrados restaurantes, pizzarias e bares. Além disso, igrejas e capelas não faltam no centro velho.

Spaccanapoli e suas tradicionais vielas (levemente sujas e caóticas).
- Piazza del Plebiscito: com certeza de 25.000 metros quadrados, essa é uma das principais praças de Napoli. De um lado da praça está o Palazzo Reale, construído em 1600 e que serviu de residência ao reis de Nápoles e Sicília até o século XIX. Do outro, fica a Basilica di San Francesco di Paola, imponente igreja em estilo neoclássico, datada de 1846.

Piazza del Plebiscito, com o Palácio Real ao fundo, em Napoli, Itália.

Em frente ao Palácio Real fica a Basilica di San Francesco di Paola, também na Piazza del Plebiscito, em Napoli, Itália.
- Castel Nuovo: construído em 1279 à beira do mar, este castelo abriga hoje o Museu Cívico. Sua arquitetura é bastante interessante, já que seu aspecto robusto contrasta com um pórtico de entrada cheio de detalhes.

Castel Nuovo, em Napoli, Itália.
- Cimitero delle Fontanelle: com certeza, o lugar mais bizarro que já visitei na minha vida. O local é um antigo cemitério que abriga restos mortais de mais de 40.000 pessoas mortas durante a Grande Peste de 1656 e da epidemia de cólera de 1836. Até aí, seria mais um cemitério normal. O inusitado é que a população napolitana resolveu “adotar” os ossos das pessoas e adorá-los. Por conta disso, é possível observar no local muitos crânios dentro de “casinhas”, além de bilhetes e presentes agradecendo pelas graças recebidas. É algo sinistro e único, que só pode ser encontrado em Napoli. Vale mencionar que essa prática de culto aos crânios foi proibida a partir da década de 60 pela igreja católica, porém é possível encontrar bilhetes e mensagens bastante atuais espalhados pelo local.

Crânios e suas respectivas “casinhas” no Cimiterio delle Fontanelle, em Napoli, Itália.

Agradecimentos aos crânios adorados pela graça recebida no Cimiterio delle Fontanelle, em Napoli, Itália.
- Real Bosco di Capodimonte: localizado no topo de uma colina, este parque foi inaugurado em 1743. Seus 124 hectares constituem uma grande área de lazer para os napolitanos, que podem caminhar entre suas árvores e descansar do caos da cidade. Além do bosque, também há no local um grande museu, instalado num antigo palácio real. O parque também oferece uma vista espetacular da cidade de Napoli, sua baía e o Vesúvio.

Palácio Real que abriga hoje o Museu di Capodimonte, em Napoli, Itália.
- Duomo: construída no século 13, é a principal igreja da cidade. Seu interior abriga a cabeça e um frasco com sangue de San Gennaro, santo padroeiro da cidade. Há procissões pela cidade três vezes ao ano que mostra aos fiéis o sangue do santo – se não estiver líquido, seria um sinal de que ocorrerão epidemias na cidade.
- Museo Cappella Sansevero: localizada numa viela na região de Spaccanapoli, esta capela conta com a estátua de Giuseppe Sanmartino Cristo velato. A famosa obra mostra Jesus com um véu perfeitamente esculpido, nos mínimos detalhes. Além desta, a capela ainda conta com outras estátuas interessantes e uma pequena parte dedicada à anatomia humana. Sem dúvidas, é um passeio imperdível na cidade.
Acredito que Napoli é uma cidade muito interessante, que merece uns 2 ou 3 dias para ser propriamente explorada. Seus arredores também oferecem algumas atrações, que podem ser visitadas facilmente a partir de Napoli. Na viagem que fizemos, escolhemos Napoli como base e nos movimentamos para os outros locais que nos interessaram.
Vesúvio
A Itália possui cerca de 15 vulcões, contando aqueles ativos, como o Etna, e adormecidos, como o Vesúvio. Este, por sinal, é o mais famoso do país, devido a sua história. Em 79 d.C., o Vesúvio entrou em erupção e destruiu, ao mesmo tempo que preservou para a posteridade, as cidades romanas de Pompeia e Herculano.
Atualmente, o vulcão está inativo e seus 1.277 metros podem ser observados a partir de qualquer ponto de Napoli. Sua cratera pode ser facilmente visitada a partir da cidade, pegando o trem Circumvesuviano na Estação Central até a Estação Ercolano Scavi. De lá, há ônibus que vão até o topo do Vesúvio (3 euros). O ingresso neste Parque Nacional é bem salgado (custa 10 euros), porém é uma atração turística que acredito que deve ser visitada.
A cratera do vulcão impressiona pelo tamanho, mas a melhor parte do passeio é a bela vista que se tem lá de cima. É possível ver Napoli, a baía que envolve a cidade, além de diversas cidades da região.

Cratera do Vesúvio, vulcão que atualmente está inativo, mas que pode despertar a qualquer momento.

Vista a partir do cume do Vesúvio, próximo a Napoli, na Itália.
Dica: caso vá ao Vesúvio, não esqueça de levar água. Dentro da área do Parque onde o Vesúvio está, os preços são bastante abusivos. Uma lata (?) de água sai pela bagatela de 3 euros. Acabamos nos esquecendo de levar e tivemos que comprar…

Desfrutando uma latinha de água no topo do Vesúvio. Caso não queira ter essa experiência, leve sua própria água…
Pompeia
Juntamente com o Vesúvio, incluímos no nosso roteiro o Sítio Arqueológico de Pompeia, cidade que foi destruída pela erupção do Vesúvio em 79 d.C. e depois redescoberta no século 18. Também facilmente acessada a partir da ferrovia Circumvesuviana, estas ruínas podem ser visitadas no mesmo dia que o vulcão.
Preservada pelo tempo devido à erupção, quando suas casas e parte de seus habitantes foram soterrados sob cinzas vulcânicas, Pompeia era uma cidade de cerca de 25 mil habitantes. Uma visita ao local nos dá a dimensão de como era a vida numa cidade romana: além das casas onde as pessoas moravam, há também o fórum (o centro da cidade, onde ficavam as construções mais importantes), termas, comércios, como lavanderias, tavernas e padarias, dois teatros, muitas mansões, um preservado anfiteatro e inclusive um bordel. Como imagens são muito melhores para descrever o local do que palavras, incluo algumas abaixo.

Uma típica “padaria” romana em Pompeia, Itália. O trigo era moído nesses moinhos de pedra (à direita) e depois o pão era assado nesse forno de tijolos aparentes.

Um dos teatros existentes em Pompeia, na Itália. Este (também conhecido como Teatro Grande) teria capacidade para cerca de 5.000 expectadores.
Muitos desses edifícios contam com afrescos e mosaicos muito bem elaborados, que nos mostram quão avançadas a arte e a sociedade romana eram há cerca de 2.000 anos. Outra atração imperdível de Pompeia é observar seus habitantes petrificados, que estão expostos em algumas áreas do sítio arqueológico.

Um dos muitos mosaicos encontrados em Pompeia, na Itália.

Pessoa petrificada em posição fetal. Muitos dos habitantes de Pompeia não conseguiram fugir a tempo e tiveram esse fim trágico.
Uma dica para explorar Pompeia é chegar cedo, evitando tanto o calor como os turistas. Por ser um dos sítios arqueológicos mais visitados da Itália, as ruínas de Pompeia ficam cheias de turistas, que se aglomeram nos principais pontos de interesse. Um dia inteiro seria o ideal para visitar o local, mas meio período já é suficiente para se ter uma boa impressão de como é/foi Pompeia. Um mapa pode ajudar no planejamento, já que a área é enorme e ficar andando sem rumo pode ser cansativo.
Sorrento
Além de Pompeia e Vesúvio, outra viagem bate-volta que fizemos quando fomos à região foi visitar a simpática cidade de Sorrento, ao sul de Napoli. Assim como o Vesúvio e as ruínas de Pompeia, Sorrento é facilmente acessada a partir da ferrovia Circumvesuviana. Em cerca de uma hora de trem a partir da Estação Central de Napoli (3,90 euros), se chega à Estação de Sorrento, localizada bem próxima ao centro da cidade.
Sorrento é uma cidade pequena, com apenas 15.000 habitantes, porém é bastante arrumadinha e muito bem estruturada para o turismo, com um infinidade de restaurantes e lojas de souvenir voltados para os visitantes. Sua organização nos faz esquecer que estamos tão próximos da caótica Napoli. Parece, realmente, que estamos em outra região italiana.
A principal área turística é o centro da cidade, que possui algumas ruas somente para pedestres. Um passeio por lá é bastante agradável e pode incluir algumas das igrejas mais importantes da cidade, como a Cattedrale dei Santi Filippo e Giacomo, que data do século X, e a Basilica di Sant’Antonino, do século XI. Além disso, há várias lojinhas que vendem um licor típico, o limoncello, feito a partir de limões cultivados na região. Provar um gole da bebida é uma atração imperdível quando se visita Sorrento.

Centrinho de Sorrento ao fundo, banhado pelo belo mar azul.
Além do simpático centrinho, Sorrento também conta com um belo e transparente mar. O melhor lugar (grátis) para um mergulho é a área chamada Bagni Regina Giovanna. Uma caminhada de cerca de 40 minutos separa a cidade deste local, que conta com ruínas romanas de uma antiga villa, além de uma piscina natural e uma praia de pedras. É um passeio bem legal e uma ótima pedida para o verão, já que as temperaturas na região podem chegar a mais de 40 graus.

Descida para Bagni Regina Giovanna, próximo a Sorrento, na Itália. É uma trilha asfaltada, porém bem íngreme.

Bagni Regina Giovanna ao fundo. O tom azul turquesa da água é maravilhoso. É um passeio perfeito para o verão.
Visão geral
A região de Napoli e arredores é muito surpreendente. Rica em história e culturalmente bastante interessante, é um passeio que vale a pena quando se visita a Itália. Napoli é bastante caótica e pode ser estressante em alguns momentos, porém tem seus encantos. Já as cidades próximas menores, como Sorrento, são bem mais tranquilas e passam a sensação de serem locais perfeitos para o descanso.
Apesar da curiosa arquitetura, das belezas naturais, da rica história e da arqueologia, o ponto que mais gostei da viagem à Napoli e região foi, sem sombra de dúvidas, a culinária. É, ao mesmo tempo, muito simples, porém muito saborosa. Destaco as sobremesas, como já mencionei antes, e principalmente a pizza.
Reza a lenda que a pizza margherita, que nada mais é do que massa com molho de tomate, mozzarella e manjericão, nasceu em Napoli. Há várias pizzarias famosas onde se pode desfrutar uma bela pizza napolitana e eu compartilho aqui duas onde pude comer: Pizzeria da Michele e Pizzeria dal Presidente. Esta primeira é a mais famosa de Napoli e sempre tem filas enormes de turistas. Bastante simples, serve somente dois sabores de pizza (marinara e margherita), mas é deliciosa. Para conseguir comer nessa pizzaria, a dica é ir fora dos horários de almoço. Fui pero das 17h00 e estava bem vazia. A segunda se chama assim, pois um presidente americano teria visitado a cidade e comido uma pizza ali. De qualquer maneira, independente onde se vá, a pizza napolitana é única. Com massa bastante grossa, mozzarella da região e um molho de tomate saborosíssimo, é uma pedida certa em grande parte dos restaurante. Nós, inclusive, quando visitamos Napoli, acabamos provando uma pizza de uma pizzaria de bairro, totalmente longe do centro e nada famosa, que era simplesmente sensacional. Além de ser muito boa, a pizza napolitana também é bastante barata (uma pizza de margherita inteira, que é bem servida custa entre 3 e 6 euros apenas), ideal para mochileiros.

Pizza margherita mais famosa de Napoli, da Antica Pizzeria da Michele. Uma pizza sensacional.

Pizza margherita da Pizzeria dal Presidente, em Napoli, Itália. Dá para ver que essa é um pouco mais uniforme do que a anterior – mas era igualmente muito saborosa.
Seja pela história ou pela comida, Napoli é uma cidade que precisa ser visitado e conhecido. A cidade geralmente não é incluída nos roteiros mais tradicionais de pessoas que vão à Itália, mas deveria. Sua atmosfera única sem igual e as atrações, tanto na cidade como em seus arredores, merecem uma atenção especial por parte dos turistas. Vá e certamente não se arrependerá!
Caso tenhas dúvidas ou sugestões, pode deixar um comentário aqui embaixo.
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